terça-feira, 26 de abril de 2011

Gimme a Break, nobre Deputado!


*Postado por Kênia Pinheiro


Por dois votos (26 a 24), a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou na terça-feira uma lei que proíbe o uso de palavras estrangeiras. Trata-se de uma versão regional da mesma ideia torta que, em nível nacional, fez o projeto Aldo Rabelo despertar marolas alguns anos atrás. O deputado gaúcho Raul Carrion, autor do projeto, compartilha com Rabelo não apenas a sigla partidária, PC do B, mas também uma peculiar mistura de demagogia e ignorância sobre o funcionamento das línguas.
A demagogia vem do apelo fácil aos brios nacionalistas de uma grande parte da população, que não tem por que aprovar o uso indiscrimado de jequices linguísticas como sale nas vitrines de lojas em liquidação ou vanilla nas embalagens de sorvete de creme.
A ignorância linguística fica atestada no momento em que se acredita – ou se finge acreditar – que uma lei possa dar jeito nisso. Que o Estado se meta a regulamentar a ortografia, como ocorre no Brasil, pode-se contestar, mas vá lá: ortografia é verniz, a parte mais superficial de um idioma. Mas o vocabulário?
Não é tudo. Ainda que fosse possível controlar a língua a canetadas, isso estaria longe de ser desejável. Ou será que, junto com os anglicismos recentes e tolinhos que julga “desnecessários”, o legislador pretende abolir também o habeas corpus, o sushi, a Cuba Libre, o scarpin, o sabor tutti-frutti, enfim, o Zeitgeist inteiro? E o que fazer com as incontáveis palavras estrangeiras que se disfarçaram de nativas, como futebol, abajur, vitrine, xampu, uísque, quibe e espaguete, para citar uma fração ínfima delas?
Se somos um povo culturalmente deslumbrado com o que vem de fora – dos Estados Unidos, melhor dizer logo –, isso tem apenas um remédio: educação, educação, educação. Em doses diárias e maciças. Mas pode ser que esse tratamento nossos ilustres representantes tenham medo de aplicar, pois acabaria por nos curar deles também.


Sérgio Rodrigues, Jornalista e Crítico Literário


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Postado por Kênia Pinheiro

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